A cultura constitui um elemento primordial no processo formativo da humanidade. É através da cultura que são manifestadas a busca dos povos por sentidos para sua existência. Ela é expressão dos anseios, temores, esperanças e perspectivas da humanidade em seu percurso histórico. A cultura representa todo processo que possibilita ao homem sua inserção na história à procura de sua humanização. Somente através da cultura é que o homem pode identificar-se diante do contexto em que ele vai descobre humano, manifestando e configurando sua própria história. Sendo assim, a questão cultural conduz o homem a um reencontro com nossa própria existência, onde há sempre um convite aberto para mergulhar nesta intrigante aventura.
Todavia, como compreender a complexidade da existência sem uma estrutura que favoreça tal desenvolvimento para a questão? Como buscar elementos que possibilitem a construção de um sentido para a vida se há um leque de opções, muitas vezes sem fundamentação, sem um esclarecimento sobre a questão?
Diante destas questões emerge um espaço de diálogo com as concepções de Theodor Wiesengrund-Adorno, filósofo frankfurtiano, que apresenta uma série de críticas ao modo como o homem pós-moderno é modelado, incapacitando-o de decidir, de escolher seu próprio caminho. Para Adorno, esta condição seria resultante da relação ambígua entre o homem e os avanços tecnológicos, estando as pessoas resignadas à escravidão de sua própria criação tecnológica.
Numa época em que se consome tudo pronto e, parcialmente, digerido, as transformações advindas com o fenômeno do avanço tecnológico e da industrialização incorporaram na sociedade não somente novos recursos – seja o rádio, o cinema, a televisão, o computador ou a internet –, mas também constituíram uma nova forma de representação do mundo. Por certo, não podemos negar que a formação cultural de nossa sociedade está hoje mediada por essas tecnologias da comunicação e informação, que oferecem um labirinto de signos e valores que são absorvidos e incorporados, muitas vezes, de forma acrítica pela população.
Torna-se necessário analisar e compreender como estas novas tecnologias passaram a intervir no processo de formação da sociedade, bem como, quais foram suas influências dentro deste contexto. A propósito, tomando o cinema como exemplo, este trouxe para o âmbito social uma cadeia de interações entre imagens, sons e movimentos, que não somente reproduzem a vida, mas que são propositores de situações, de sentidos, de conhecimento, ou seja, de uma cultura. Ao interferir e alterar os modos e meios de produção de bens – materiais ou simbólicos – estas revoluções tecnológicas acirram ainda mais as contradições ideológicas estruturais do modelo econômico ocidental. Passaram a introduzir novos paradigmas sociais, afetando os hábitos, o comportamento da sociedade. Alteraram o modo de interpretar e representar os elementos da realidade. Propuseram novas possibilidades de manter suas relações sociais. Diante destes fatores, nota-se que a sociedade se vê diante de uma séria problemática: como transitar por estas novas linguagens de forma a potencializá-las para o seu próprio benefício?
Essa condição da sociedade atual é retratada por Adorno naquilo que ele denomina de uma Indústria Cultural. A Indústria Cultural se caracteriza por ser um poderoso sistema de representação que conjuga múltiplas linguagens, em seus mais diversos níveis de complexidade, que interagindo com a arte, com a ciência e com a tecnologia, foram dispostas como instrumentos a serviço da máquina capitalista. Conforme os estudos de Adorno, na sociedade tecnológica, pós-moderna, os meios de comunicação tornam-se uma grande força alienante. Através dela o sistema impõe valores e modelos de comportamento, criando necessidades e estabelecendo uma linguagem. Os indivíduos tornam-se meros consumidores, passivos diante desta força, que tende a não estimular a criatividade e nem elevar à emancipação de cada homem. Ao submeter o indivíduo a um modo de vida melhor, a Indústria Cultural, conforme este pensador, não vincula propriamente uma ideologia: ela própria é uma ideologia, passando a ser fundamental para a perpetuação do sistema.
Este mecanismo alienador proporcionou um estado de barbárie social e que, a cada instante, distancia o homem de suas questões existenciais, afirma Adorno. Sendo assim, esta nova significação atribuída à cultura é que proporcionou um grande empecilho que distancia o homem das principais questões que perpassam a sua própria existência. Para Adorno, é através da Indústria Cultural que o homem pós-moderno vive este paradigma existencial.
(LIMA, Osvaldo. A INDUSTRIA CULTURAL E A FORMAÇÃO DO HOMEM CONTEMPORÂNEO - reflexões a partir da perspectiva adorniana. Brasília: UCB, 2006, p.7)
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